“VIVA MARÍLIA”, REGISTRO DE UMA CONTRADIÇÃO EM PRIMEIRA PESSOA.
Por Celso Sabadin.
No documentário “Viva Marília”, um dos destaques deste Festival É Tudo Verdade 2025, a grande atriz brasileira Marília Pera defende, entre outras ideias, que todo artista deve ser revolucionário, à frente do seu tempo. Ela também condena a truculência e a censura que aterrorizaram as artes brasileiras durante a ditadura civil-militar-empresarial de 1964. E afirma ter sido presa duas vezes durante o exercício de sua liberdade artística, por ocasião das peças “Roda Viva” e “Apareceu a Margarida”.
Assim, fica mais difícil compreender como e porquê Marília acabou participando ativamente da campanha eleitoral de Fernando Collor, em 1989, momento da primeira eleição direta para Presidente da República após o término da ditadura. Sua participação na campanha obviamente não está no documentário (e nem seria o caso, pois trata-se de uma homenagem à carreira da atriz, falecida há 10 anos), mas fica notória a contradição intrínseca.
O roteiro de Nelson Motta, um dos ex-maridos de Marília, apoia-se exclusivamente em falas da própria documentada e em riquíssimo material de arquivo. Ninguém além da própria Marília fala de Marília. E nem seria necessário, pois sua arte fala por si, seja no drama, na comédia ou no musical, sempre esbanjando enorme talento. Filmes caseiros realizados pelo pai da biografada, ainda na infância dela, dão ao longa um sabor ainda mais especial de afeto e nostalgia.
A direção de Zelito Viana se mostra eficiente ao evitar quaisquer tipos de penduricalhos, interferências gráficas, maneirismos redundantes e estilizações exageradas na narrativa, abrindo assim totalmente o caminho para o brilho de quem deve brilhar nesta formatação de documentário: a homenageada e seu talento.
Toda a programação do 30º Festival É Tudo Verdade pode ser consultada em https://etudoverdade.com.br/br/programacao