O MODERNISMO BRASILEIRO GANHA DUAS VISÕES FASCINANTES NO 30º É TUDO VERDADE.

Por Celso Sabadin.

Dois documentários de linguagens diametralmente opostas entre si abordam, cada qual à sua maneira, o Modernismo brasileiro. São eles “Quando o Brasil Era Moderno” e “Copan”. Ambos também concorrem na Mostra Competitiva de Longas do 30º Festival É Tudo Verdade.

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QUANDO O BRASIL ERA MODERNO

Quem observa hoje o nosso país atolado em fanáticas seitas religiosas, terraplanismo e negacionismos científicos certamente não se lembra – ou talvez nunca soube – que o Brasil já passou por épocas cujos desenvolvimento e modernidade encantaram o planeta.

E não estamos falando apenas da revolucionária Semana de Arte Moderna de 1922, mas primordialmente da nossa arquitetura. Mostrando aos mais desavisados que não, nem sempre estivemos afundados nesta tosqueira atual, o longa “Quando o Brasil Era Moderno” se configura num dos destaques desta edição 2025 do É Tudo Verdade.

A partir do livro “Moderno e Brasileiro”, de Lauro Cavalcanti, um roteiro de fôlego assinado por Guilherme Vasconcelos, pelo próprio Cavalcanti, e pelo diretor do filme, Fabiano Maciel, tenta dar conta da riquíssima história da arquitetura brasileira a partir da República. Não apenas de sua evolução no tempo propriamente dita, como também – e principalmente – de como esta arte é manipulada politicamente por diferentes governantes.

Afinal, como diz um dos depoentes do filme, “Arquitetura é poder, porque arquitetura é muito cara!”.

A quantidade e a riqueza das informações contidas em “Quando o Brasil Era Moderno” excede a capacidade que um ser humano mediano tem de reter tudo o que é exposto, audiovisualmente,  durante o tempo normal de projeção de um filme. Dá vontade de pedir para o projecionista do cinema voltar trechos e mais trechos repetidamente, para que possamos apreciar – sem moderação – as inúmeras histórias e personagens que o longa nos apresenta.

Não por acaso, a estrutura narrativa escolhida para o documentário foi a clássica e tradicional conhecida por “voz de Deus” (narração em off onipresente e onisciente), certamente um pouco antiquada, mas neste caso indispensável para expor tantas imagens, depoimentos, raciocínios e sinapses entre política, poder e arquitetura.

O filme ainda atiça e provoca seu espectador ao propor a seguinte pergunta: quando o Brasil desistiu de ser moderno?

Na impossibilidade de pedir ao projecionista do Festival para parar e voltar trechos do filme, restam algumas opções: assisti-lo novamente, esperar pelo streaming, e comprar o livro que o inspirou. As três me parecem bem interessantes.

 

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COPAN

Em estilo completamente diferente – mas mantendo pelo menos um importante ponto em comum com “Quando o Brasil Era Moderno” – o longa “Copan” também se destaca na Mostra Competitiva do 30º É Tudo Verdade.

Coproduzido por Brasil e França, o tema básico – praticamente único – de “Copan” é, sim, o famoso edifício de linhas modernistas projetado por Oscar Niemeyer, situado no centro de São Paulo. Mas não da forma que certamente a maioria do público imaginaria, num primeiro momento.

Nada de imagens de arquivo, nem de depoimentos tradicionais de seus moradores, muito menos de contextualizações histórico-sociais-arquitetônicas. Tampouco é uma versão paulista de “Edifício Master”.

O roteiro e a direção de Carine Wallauer propõem um mergulho poético no edifício, dentro de uma linguagem puramente observativa, tangenciando o experimental.

Através da estética que os documentaristas chamam de “mosquinha na parede”, somos convidados pela câmera de Wallauer a passear silenciosamente pelos meandros do Copan. Conhecemos seus longos corredores amarelos, ouvimos por detrás de portas, participamos de conversas de seus funcionários, passamos por longos momentos contemplativos, e até xeretamos uma pouco amigável reunião online de condomínios. O provocativo pano de fundo de todas estas situações é a tensão das mais recentes eleições presidenciais.

A programação completa do 30º É Tudo Verdade está em  https://etudoverdade.com.br