“NOVELA DAS 8″ MISTURA HUMOR E DITADURA MILITAR.
Nesta semana, estreiam dois filmes brasileiros de ficção totalmente diferentes entre si e que tratam de duas das maiores paixões do brasileiro. De um lado, “Heleno”, de José Henrique Fonseca e com Rodrigo Santoro no papel-título, sobre notório jogador de futebol de carreira marcada por reveses pessoais. Obra em preto-e-branco, de ambiciosos traços autorais, mas a que ainda não assisti – e pela qual tenho grande curiosidade.
De outro lado, “A Novela das 8” marca a estreia como diretor e roteirista de Odilon Rocha, que quis justamente homenagear esta outra paixão nacional, a telenovela – ele se declara pouco ligado em futebol e carnaval, mas é noveleiro quando está no Brasil. Segue resenha publicada (reprodução revista JUNIOR):
‘É interessante o ponto de partida do filme de estreia do diretor e roteirista Odilon Rocha, “A Novela das 8”: corre o ano de 1978, em pleno auge da ditadura militar, e enquanto uma atriz de segunda categoria, Amanda (Vanessa Giácomo), é fanática pela novela “Dancin’ Days”, de Gilberto Braga, e sonha ir ao Rio de Janeiro para dançar disco music na boate de mesmo nome, no Morro da Urca, sua assistente, Dora (Claudia Ohana), é uma ex-militante que vive na clandestinidade e sonha reencontrar seu filho adolescente. Alienação e engajamento coexistem na trama, que, de forma semi-autobiográfica, retrata a geração do desbunde, a geração Arpoador/Ipanema que começou a revolucionar os padrões morais do país e depois viria a idolatrar o fio dental de Fernando Gabeira. O filme é uma deliciosa viagem no tempo em figurinos, direção de arte e, em especial, trilha sonora, com um ótimo repertório de hits dos tempos da discoteca – e Ohana aproveita e também canta.
Na ânsia de mostrar serviço, porém, o diretor novato cria personagens e situações em excesso, nem todas bem resolvidas. É caricato ao extremo, por exemplo, o núcleo da repressão (representada pelo ator Alexandre Nero) e da militância (por Otto Jr.). Mas há autenticidade na história paralela de Caio (Paulo Lontra), o jovem filho de Dora, que se liberta dos grilhões dos avôs e identifica aos poucos a própria sexualidade (descoberta feita com carinho junto a um jovem intelectual da Avenida Vieira Souto, João Paulo, interpretado por Mateus Solano). Apesar de coadjuvante, esta é a melhor história d’A Novela das 8, na qual Rocha encontrou maior ressonância. E faz valer ainda mais uma espiada neste filme de sabor vintage, irregular, mas com muito pra se ver e ouvir.”