PRESIDENTE DA ANCINE PUXA A ORELHA DE DISTRIBUIDORES E EXIBIDORES.

Durante a realização do 8º Congresso Brasileiro de Cinema, em Porto Alegre, Manoel Rangel, Presidente da Ancine, foi otimista ao afirmar que “saímos de um quadro onde toda a ação do poder público resumia-se a autorizar projetos para captar recursos, e alguns poucos editais, para uma situação completamente diferente, com uma estrutura de ação ampliada, um órgão gestor para políticas públicas, uma Secretaria de Audiovisual que lida com inovação e desenvolvimento, e tudo isso de forma articulada”.

Rangel também festejou as ampliações das condições de apoio à produção audiovisual, citando números: “Em 2003, foram lançados aproximadamente 30 longas metragens brasileiros no nosso circuito comercial, contra aproximadamente 80 longas em 2009. Deixou-se de encarar somente o cinema como produção audiovisual, abrindo-se espaço também para televisão, jogos eletrônicos e para uma proposta muito mais ampla para o audiovisual”.

E ainda segundo Rangel, começou a existir também um estímulo maior à expansão do parque exibidor, um esforço de internacionalização da produção brasileira e uma descentralização desta mesma produção, sem esvaziamento dos pólos principais de São Paulo e Rio.

Tudo bem. Mas após um balanço, é sempre inevitável a pergunta: e o futuro? Segundo o Presidente da Ancine, “o futuro passa necessariamente pelo Plano Nacional de Banda Larga. Muito em breve a Banda Larga será tratada como um direito inalienável do cidadão, assim como a saúde, a habitação, segurança, a própria cidadania”. E conclui dando um belo puxão de orelhas: “Exibidores, programadores e distribuidoras precisam entender que o Brasil não é formado só pelas classes A e B. Precisamos ter 200 milhões de incluídos culturais”.

Neste sentido, Rangel está mais do que certo. Nos últimos anos, o cinema brasileiro tem passado por um forte processo de elitização, com aumento absurdo dos preços dos ingressos, e com uma espécie de “aquartelização” (existe esta palavra?) das salas nos últimos andares dos shopping centers das maiores cidades do país. O recado dos exibidores é claro: “Não queremos pobre entrando em nossos cinemas. Pobre não compra pipoca”. Esta estratégia de espantar o grande público para privilegiar as classes mais altas tem se mostrado um gigantesco tiro no pé do mercado, que vê despencar a cada ano o número de ingressos vendidos. Pode ser que pobre não coma mesmo pipoca no cinema. Mas rico prefere blockbuster e download. Perde o cinema.

Agora, cabe aos “exibidores, programadores e distribuidoras” citados por Rangel abrirem realmente os seus olhos para a grande massa da população. A mesma massa que antigamente fazia filas para ver Oscarito, Grande Otelo e Mazzaropi. Onde estarão eles? Escondidos em casa, vendo o Faustão, sem vontade de entrar nos frios e constrangedores corredores dos shoppings e – pior – privados de salas de cinema num raio de quilômetros e quilômetros.
Vamos cobrar. Duzentos milhões de incluídos culturais só poderão fazer bem a este país que cresceu economicamente nos últimos anos, mas que ainda está na Era do Gelo do acesso à Cultura.