“ZONA DE EXCLUSÃO” (NÃO CONFUNDA COM “ZONA DE INTERESSE”) ESCANCARA A HIPOCRISIA BRANCA EUROPEIA.
Por Celso Sabadin.
Aos 75 anos, a importante e histórica cineasta polonesa Agnieska Holland mostra que continua em plena forma criativa. A mundialmente premiadíssima diretora de “Febre”,”Filhos da Guerra”, “Olivier, Olivier”, “O Jardim Secreto” e muitas outras preciosidades que não costumam frequentar a mesmice das plataformas de streaming chegou na última quinta-feira, 25/04, aos cinemas brasileiros com sua obra mais recente: “Zona de Exclusão”.
Prepare-se. O filme é um soco no estômago.
O ótimo roteiro de Maciej Pisuk, Gabriela Lazarkiewicz e da própria diretora acompanha vários personagens na fronteira entre Belarus (também conhecido como Bielorússia) e Polônia. A região é uma espécie de “terra sem lei” onde refugiados de guerra em busca de condições de vida minimamente dignas, vindos de vários países, são “despejados” por traficantes humanos sem qualquer tipo de escrúpulo.
Ali, eles passam por todos os tipos de violências, privações e provações, enquanto são feitos de joguetes tanto pela polícia polonesa como pela bielorrussa. Afinal, polícia é polícia em qualquer lugar do mundo.
Uma família síria fugindo do horror, um grupo de militantes que luta contra a barbárie, oficiais poloneses disseminando as mais terríveis fale news, uma psicóloga que abandona tudo para se dedicar a causas humanitárias… há um pouco de tudo neste cenário inacreditavelmente desolador.
O filme costura estas e outras situações com extrema habilidade dramatúrgica, conseguindo o difícil feito de construir solidamente uma ampla gama de personagens em tempos exíguos e narrativas fragmentadas. E com altíssimos níveis de empatia potencializados por uma dramática e pungente fotografia em preto e branco.
No final – e isso não é spoiler – quando parece não existir mais espaço algum para o aprofundamento da denúncia da incivilidade, um rápido epílogo escancara como esta aberração humana que se convencionou chamar de “europeu” dedica cuidados e atenções especiais em casos de refugiados brancos, após escorraçar com requintes de crueldade sórdida seus pares árabes e pretos.
Uma hipocrisia que faz um eco dolorosamente profundo à icônica imagem de refugiados exauridos sob o olhar impassível do símbolo estrelado da comunidade europeia.
“Zona de Exclusão” (não confundir com o oscarizável “Zona de Interesse”) obteve sete premiações no Festival de Veneza, inclusive o Prêmio Especial do Júri.
A produção parece uma comissão da ONU: envolve Polônia, EUA, França, República Tcheca, Bélgica, Alemanha e Turquia.