O BRASIL AUTÊNTICO NAS TELAS EM DOIS DOCUMENTÁRIOS.

O carioca “Todo Dia é Dia de Feira” e o pernambucano/paulista “Rua Aurora - Refúgio de Todos os Mundos” estreiam nesta quinta, 27/03.

Por Celso Sabadin.

Importantes, necessários e grandemente responsáveis por manter girando as engrenagens do audiovisual brasileiro, os documentários em longa metragem continuam mapeando os mais diversos aspectos da cultura e da sociedade do nosso pais.

Nesta quinta-feira, 27/03, mais dois deles entram em cartaz em cinemas: “Todo Dia é Dia de Feira” e “Rua Aurora = Refúgio de Todos os Mundos”.

 

TODO DIA É DIA DE FEIRA

Talvez com o título inspirado em “Every Day Except Christmas” (um seminal documentário britânico sobre uma tradicional feira londrina), “Todo Dia é Dia de Feira” acompanha as trajetórias de quatro feirantes do Rio de Janeiro.

O longa mostra o lado que quase ninguém vê destes profissionais, desde o despertar no meio da madrugada, as compras nos grandes entrepostos, a montagem das barracas, os perrengues, enfim, o cotidiano da vida.

A cineasta Silvia Frahia, apaixonada confessa pelo assunto, coloca-se em primeira pessoa no filme, tecendo comentários e considerações, e até chamando um secretário municipal do Rio de Janeiro para uma visita à feira, com o intuito de verificar as necessidades dos feirantes. A cena resulta num patético retrato da falta de preparo e sensibilidade da administração pública da cidade.

As imagens e os depoimentos foram coletados entre agosto e setembro de 2021, ainda na pandemia, nas feiras da Gávea, Copacabana, Ipanema, Jardim Botânico, Irajá e Caxambi, além do Ceasa; do Mercado Municipal do Rio; e das comunidades do Caju e Rocinha.

Quem dirige

Além de uma longa carreira como produtora executiva, a carioca Silvia Fraiha foi codiretora dos documentários: Rio de Cinemas, sobre a história das salas de cinema na Cidade Maravilhosa, e Virando Bicho, que acompanha jovens de diferentes classes sociais que tentam entrar na faculdade. Todo Dia é Dia de Feira, onde também assina o roteiro e a produção executiva, é seu primeiro trabalho solo como diretora.

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RUA AURORA – REFÚGIO DE TODOS

Do Rio para São Paulo. O olhar “estrangeiro” que o cineasta pernambucano Camilo Cavalcante lança sobre uma das ruas mais icônicas da capital paulista é um dos grandes diferenciais de “Rua Aurora – Refúgio de Todos”, que também chega em cinemas nesta quinta-feira, 27/03.

O roteiro de Eli Ramos e do próprio diretor do filme retrata a rua Aurora como um lugar de fuga, um pequeno pedaço encravado no centrão paulistano que acaba atuando como abrigo para os diversos tipos de excluídos.

Tal enfoque transita na contramão da imagem estereotipada de libertinagem e pecado que foi montada pelo pré-julgamento conservador da sociedade dos anos 1960 e 70, época em que o lugar concentrava cinemas pornô, pequenos hotéis de alta rotatividade e pontos de prostituição.

Com estrutura documental e profundidade narrativa que remete ao clássico “Edifício Master”(sim, isto é um elogio), “Rua Aurora – Refúgio de Todos”, entra nas casas, nos cenários e nas vidas de vários de seus moradores e frequentadores, venham eles da Nigéria, da Jamaica, do Senegal ou de vários pontos do Brasil.

O filme foi produzido e dirigido em 2021, ainda na pandemia.

 Quem dirige

Nascido em Recife, Camilo Cavalcante é produtor, roteirista e diretor. Em 2014, realizou A História Da Eternidade, seu primeiro longa-metragem, que recebeu 28 prêmios. Em 2020, o roteiro original do filme foi publicado em livro pela CEPE – Companhia Editora de Pernambuco sendo finalista do Prêmio Jabuti na categoria artes.

Em 2020 produziu, escreveu e dirigiu seu segundo longa de ficção, King Kong En Asunción. Filmada na Bolívia, no Paraguai e no Brasil, a produção ganhou 18 prêmios.

Produziu e realizou o documentário Beco (2019), que estreou na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e foi selecionado para o PERSO-Perugia Social Film Festival, na Itália. Em parceria com Cláudio Assis, dirigiu também o documentário Eu Vou De Volta (2007), com incentivo do Programa Rumos, promovido pelo Itaú Cultural.

Na televisão, roteirizou e dirigiu a série Luz Do Sertão – 100 Anos De Luiz Gonzaga, exibida em 2013.Criou, produziu e dirigiu duas temporadas da série Olhar, exibidas pelo Canal Brasil, TV Pernambuco, TV Universitária, TVE Bahia e TVT. Também roteirizou e dirigiu sete episódios da série documental Índios No Brasil (2017) e três episódios de Anjos Humanos (2018), exibidas na rede pública nacional de emissoras de televisão. Foi um dos realizadores do documentário 5 Vezes Chico – O Velho E Sua Gente (2016) exibido pela GloboNews.

É roteirista, produtor e diretor de 14 curtas.

Atualmente, Camilo transita entre Brasil e Portugal, onde cursa o doutoramento em Media Artes na Universidade da Beira Interior, pela qual é também Mestre em Cinema. Possui graduação em Jornalismo pela Universidade Federal de Pernambuco, estudou Roteiro Cinematográfico na Escuela Internacional de Cine y TV de San António de Los Baños, Cuba, e tem curso de extensão em Transcinema: Cinema, Pintura e Arte Contemporânea pela PUC-Rio.