“NOSSO VERÃO DARIA UM FILME”: CATIVANTE E AFETIVO.

Por Celso Sabadin.

Demosthenes  (Yorgos Tsiantoulas) e Nikita (Andreas Lampropoulos) são grandes amigos de longa data. Enquanto curtem uma paradisíaca praia de nudistas na Grécia, ambos conversam sobre suas questões mais urgentes e importantes. O problema é que Demosthenes está mais preocupado com seus vários e fugazes relacionamentos amorosos, e Nikita só pensa em escrever um roteiro para cinema no qual os dois amigos interpretariam os papeis principais. Conciliar estes interesses conflitantes será um grande desafio para a manutenção da amizade.

Com roteiro de Fondas Chalatsis e do próprio diretor do filme, Zacharias Mavroeidis (aqui em seu quarto longa para cinema), “Nosso Verão Daria um Filme” é algo entre uma comédia romântica com toques dramáticos, ou um drama romântico com toques cômicos. Classificações de gênero a parte (afinal, elas servem para quê, mesmo?), trata-se de um filme sobre afetos e abandonos.

De uma forma ou de outra, praticamente todos os personagens do longa estão interligados em uma cadeia congênita e recorrente de abandonos afetivos, repetindo em seus cotidianos os mesmos comportamentos excludentes dos quais foram vítimas, em algum momento de suas vidas.  “Você já ouviu falar de alguma mãe que não teve vergonha de seu filho?”, pergunta a mãe de Demosthenes. “Somos todos bichas tristes”, conclui Nikita.

Para os cinéfilos, a cereja do bolo de “Nosso Verão Daria um Filme” é a brincadeira metalinguística proposta pela sua formatação: o longa se desenvolve seguindo as formulações básicas do próprio roteiro que Nikita escreve durante a trama. Com direito a sarcasmos direcionados contra a mesmice dos produtos audiovisuais comerciais tradicionais. Num irônico exercício de autocrítica, será exatamente esta mesmice a linha condutora do próprio filme. O resultado é simpático.

Abordando com leveza temas sérios como carências e exclusões, “Nosso Verão Daria um Filme” lança um despretensioso e bem vindo olhar afetuoso sobre a amizade e solidão.

Entrando nesta quinta-feira, 27/06, em sua segunda semana em cartaz nos cinema brasileiros, o longa teve 5 indicações no Hellenic Film Academy, o prêmio mais importante do cinema grego.