“NO CÉU DA PÁTRIA NESSE INSTANTE” EXPÕE O GROTESCO 8 DE JANEIRO.

Por Celso Sabadin.

Muitos já falaram que vai ser bem difícil explicar, para as próximas gerações, a bagunça político-eleitoral-social destes nossos últimos tempos. Concordo plenamente. Pelo menos os professores do futuro estarão bem municiados com vários documentários sobre o tema que estão sendo produzidos nos últimos 8 ou 10 anos. “No Céu da Pátria Nesse Instante” é um deles.

Com roteiro e direção de Sandra Kogut, o longa acompanha de perto os meses turbulentos do período eleitoral que culminaram na inacreditável invasão do Congresso Nacional, do Palácio do Planalto e do Supremo Tribunal Federal no infame 8 de janeiro de 2023.

“No Céu da Pátria Nesse Instante” utiliza o modelo de “documentário observativo”, no qual a câmera registra os acontecimentos históricos e seus bastidores com um olhar curioso e intenso, com pouca ou quase nenhuma interferência de depoimentos previamente marcados.

“Geralmente nessas situações olhamos para quem está no centro da imagem, no centro do poder: os candidatos. Mas e os que estão ali do lado? No fundo? Junto? Sem eles o processo não existe. Eu queria esses olhares. Tanto que algumas imagens de momentos marcantes, como o dia da posse, vemos por um ângulo que não foi aquele das imagens oficiais. A visão dessas pessoas que não estão habitualmente no centro sempre me interessou, nos meus outros filmes também lidei com isso. No processo eleitoral é impressionante ver quanta gente trabalha, se dedica, se envolve. É o esforço máximo da democracia”, afirma Sandra.

Outras figuras que também estão em destaque no longa são voluntários que trabalham nas eleições, que fazem o processo eleitoral e a democracia acontecer. Isso permite descobrir coisas geralmente pouco retratadas na mídia, como o funcionamento das urnas eletrônicas.

“No Céu da Pátria Nesse Instante”, diferente de outros filmes do gênero, abre suas câmeras também para militantes de direita, com resultados que ficam entre o cômico e o grotesco. O filme dá a corda para eles próprios se enforcarem, o que não é muito difícil, em função das incapacidades lógica e mental dos personagens em questão.

O longa foi exibido em vários festivais nacionais e internacionais, como 27o Festival de Málaga; Dok.fest München 2024; 26o Festival du Cinéma Brésilien de Paris; Festival Biarritz Amérique Latine; Brésil en Mouvements 2024; Fidba Buenos Aires e Festival do Rio, saiu do 56º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, com o Troféu de Melhor Montagem e com o Prêmio Especial do Júri.

“No Céu da Pátria Nesse Instante” está na programação da 48a. Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Confira em https://48.mostra.org/

Quem dirige

Cineasta e documentarista, Sandra Kogut vem há anos utilizando diferentes mídias e formatos: ficções, documentários e instalações. Seus filmes receberam dezenas de prêmios internacionais e foram lançados em diversos países. Entre eles estão o documentário “Um Passaporte Húngaro” (França/Bélgica/Hungria/Brasil, 2003); “Mutum” – longa-metragem de ficção baseado em Guimarães Rosa – que teve estreia mundial no Festival de Cannes (2007) e recebeu mais de vinte prêmios internacionais, além de ser lançado comercialmente em mais de 20 países. Ambos os longas “Campo Grande” (Brasil/França, 2015) e “Três Verões” (Brasil/França, 2019) estrearam no Festival de Toronto e também correram o mundo, recebendo prêmios em Havana, Antalya, Málaga, Mar del Plata e muitos outros. Em 2021 Kogut idealizou e dirigiu o documentário “Voluntário ***1864” sobre os voluntários das vacinas contra a Covid.