“NINGUÉM SAI VIVO DAQUI”: NEM TERROR, NEM POLÍTICO.

Por Celso Sabadin.  

Quando soube que o filme “Ninguém Sai Vivo Daqui” foi inspirado no livro “Holocausto Brasileiro”, de Daniela Arbex, logo me interessei. Eu já havia gostado do documentário homônimo ao livro, dirigido em 2016 por Armando Mendz e pela própria Daniela, e fiquei curioso para ver esta nova versão cinematográfica, agora ficcional.

Talvez a minha expectativa ampliada tenha contribuído para a grande decepção que o filme me causou.

O roteiro de Rita Glória Curvo, Marco Dutra e do próprio diretor do longa, André Ristum, acompanha o martírio da jovem Elisa (Fernanda Marques), ao ser forçosamente internada por seu pai no Hospital Psiquiátrico Colônia, em Minas Gerais. A instituição de fato existiu, e foi o centro do tal “Holocausto Brasileiro” que dá nome ao livro e ao documentário.

Mas “Ninguém Sai Vivo Daqui” prefere não abordar as questões políticas ali desenroladas, mesmo com a ação ambientada nos anos 1970, auge da ditadura brasileira. Após uma demorada hesitação de um roteiro claudicante, o filme acaba optando pelos caminhos do terror tradicional, nos quais também acaba se perdendo, não obtendo êxito na tão necessária criação de clima para o gênero.

“Ninguém Sai Vivo Daqui” padece de uma estética audiovisual pouco inventiva que há décadas nos acostumamos a acompanhar em produtos televisivos e, mais recentemente, em streamings predominantes. Da mesma forma, a trilha sonora insistente segue os caminhos da cansativa onipresença musical do audiovisual estadunidense, que há muito parece ter se esquecido da grande importância narrativa do silêncio.

Ao abrir mão dos aspectos políticos e mirar o terror convencional, “Ninguém Sai Vivo Daqui” enfraquece a própria proposta do livro que o originou, e acaba permanecendo num hesitante meio termo que nem contempla a questão política, nem a social, tampouco os cânones do horror cinematográfico.

Um letreiro final tenta salvar a situação. Sem sucesso.

Completam o elenco Augusto Madeira, Andréia Horta, Rejane Faria, Naruna Costa, Aury Porto, Arlindo Lopes e Bukassa Kabengele. O filme entra em cartaz no próximo dia 11 de julho.