“LUBO” E O RACISMO DE QUEM SE DIZ NEUTRO.

Coprodução ítalo-suíça estreia em cinema nesta quinta, 31.

Por Celso Sabadin.

Quando se fala em crianças cruel e arbitrariamente arrancadas de seus pais, na época da Segunda Guerra, a primeira imagem que nos vem à mente se relaciona às atrocidades nazistas cometidas contra os judeus.

“Lupo” aborda o mesmo tema, na mesma época, mas com outros protagonistas: na Suíça de 1939, o governo que se autoproclama “neutro” comete a mesma barbaridade contra os povos ciganos. Sob o falso pretexto de uma suposta assistência social, os suíços adotam a mesma atitude hitleriana de “limpeza étnica”.

O cigano Lubo (vivido pelo alemão Franz Rogowski, de “Undine”) sente na pele a tragédia, ao ser convocado pelo exército suíço e ter seus dois filhos pequenos sequestrados pelo poder público. Literalmente de um instante para o outro, Lugo se vê obrigado a abandonar suas apresentações circenses/ teatrais/ libertárias/ humanistas para ingressar no universo da rude ignorância militar. Porém, passividade e conformismo não fazem parte do vocabulário do cigano, que mergulhará numa jornada insana na qual não medirá esforços na tentativa de recuperar suas crianças.

O material de divulgação do filme informa que ele é baseado em caso real. Vale fazer a distinção: o personagem Lubo, especificamente, não existiu, mas todo o aparato da Kinder der Landstrasse e da Pro Juventude efetivamente existiram, atuando como ferramentas das teorias de eugenia, que pregavam a tal “purificação” racial. O mais estarrecedor é saber que tal esquema racista esteve ativo até os anos 1970.

A direção de Giorgio Diritti (o mesmo de “A Vida Solitária de Antonio Ligabue”, exibido no Brasil em 2021) segue o padrão clássico de ação cronológica, sempre se apoiando numa impecável reconstituição de época e em belíssimas paisagens suíças para contar e emoldurar sua história. Funcionou: as quase três horas do filme têm uma “sensação térmica” (como diria o saudoso jornalista baiano João Sampaio) bem menor, na medida em que desenvolve com segurança e habilidade os passos da incrível trajetória do protagonista.

O roteiro é de Giorgio Diritti, Fredo Valla e Tania Pedroni, a partir de “Il Seminatore”, de 2004, livro de estreia de Mario Cavatore. A tradução literal do título do romance seria “O Inseminador”, bastante coerente com os rumos do protagonista. Veja o filme para saber.

Selecionado para a Mostra Competitiva do Festival de Veneza, “Lubo” estreia nos cinemas nesta quinta-feira, 31/10.