“FILHO DE BOI” DEMOROU, MAS CHEGOU.

Por Celso Sabadin.

Exibido e premiado no Festival de Busan, na China, em 2019, e um dos destaques brasileiros da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2020, somente agora – no segundo semestre de 2024 – que o sensível “Filho de Boi” consegue seu espaço no circuito exibidor de seu próprio país.

Além das dificuldades causadas pela pandemia, o longa baiano também é uma entre as várias produções brasileiras que lutam contra todos os vingadores e super-heróis estadunidenses pelo seu cantinho ao sol no mercado de cinema. Um verdadeiro crime cultural.

Aliás – parêntese – ainda esta semana vi uma propaganda anunciando o próximo Batman para 2026, já com data marcada e tudo. Os outros que lutem, que houver espaço.

Escrito e dirigido por Haroldo Borges, que divide o roteiro com Paula Gomes, “Filho de Boi” parte de um argumento bastante clássico para desenvolver sua história: a fuga através da arte.

O garoto João (João Pedro Dias, bem convincente), totalmente deslocado do meio social onde vive, vê na chegada de um circo ao seu vilarejo no interior da Bahia a possibilidade de abandonar a precariedade do lugar. E também – ou principalmente – de escapar do bullying que sofre por não fazer parte de uma família convencional.

Ele fica dividido entre as raízes tradicionais fortemente fincadas na terra por seu pai (Luiz Carlos Vasconcelos), e o encanto etéreo das cores, músicas e dos palhaços do circo, personificados por Salsicha (Vinicius Bustani), o dono da pequena empreitada mambembe.

Como roteiro, o longa não escapa muito dos lugares comuns que o tema proporciona. Porém, sua direção é excepcional: sóbria, minimalistamente encantadora e coerente com o ritmo da geografia da trama, reflexiva e envolvente. Um convite à observação poética. A bela e inspiradora fotografia de Remo Alboroz é uma preciosidade a parte.

“Filho de Boi” estreia – finalmente – neste primeiro de agosto. Demorou, mas valeu a espera.

 

Quem é o diretor

Haroldo Borges, diretor, roteirista e diretor de fotografia, integra o coletivo baiano Plano 3 Filmes, com o qual já realizou mais de 15 projetos, como o documentário “Jonas e o Circo sem Lona” (2015), do qual foi roteirista e diretor de fotografia, e “Filho de Boi”, seu primeiro longa-metragem na direção.