FESTIVAL DE PREVISIBILIDADE EM “O MELHOR AMIGO DA NOIVA”

Cada vez mais as distribuidoras de filmes – tanto as brasileiras como as internacionais – parecem não ligar a mínima para um dos elementos mais agradáveis do cinema: a surpresa. Além de trêileres (seria este o plural aportuguesado de trailer, assim como “hambúrgueres”?) que fazem questão de contar a trama inteirinha, do começo ao fim, vez por outra surgem alguns títulos que parecem piada de português. Como aquela que diz que “Psicose”, em Portugal, se chamou “O Filho que Era Mãe”.

O fato do protagonista do filme “O Melhor Amigo da Noiva”, por exemplo, se transformar em, digamos… no melhor amigo da noiva, é algo que a trama guardou para ser revelado apenas aos 30 minutos de filme. Isto é, dentro das tradicionais fórmulas matemáticas dos roteiros americanos, esta era para ser a primeira “virada” da história. Não é mais: já está tudo esclarecido no título em português.

Tudo bem que “Made of Honor”, o título original, é um trocadilho difícil de traduzir (veja o filme e descubra), mas, convenhamos, isso já não é problema do público. Na linha da comédia romântica açucarada, “O Melhor Amigo da Noiva” fala de Tom (Patrick Dempsey, de “Encantada”) e Hannah (Michelle Monaghan, de “Missão Impossível 3”), grandes amigos já há mais de dez anos, perfeitos um para o outro, mas que nunca arriscaram namorar para não estragar a amizade. Alguém se lembra de “Harry & Sally – Feitos um Para o Outro”? “O Casamento do Meu Melhor Amigo”? Pois bem. Nada se cria, nada se perde. Até o dia em que Hannah precisa viajar por algumas semanas e Tom, sozinho, se percebe totalmente apaixonado por ela.

O resto é de uma previsibilidade espantosa, ainda mais com um título como este. Incluindo as mais manjadas e repetidas locações de Nova York. Tal previsibilidade, porém, não chega a ser um grande problema do filme, já que este tipo de comédia romântica prefere mesmo não trabalhar com grandes surpresas para o público, que prefere o certo ao inesperado. Os maiores pecados de “O Melhor Amigo da Noiva” se concentram em dois itens que jamais podem falhar neste gênero: falta de diálogos divertidos, e falta de química entre os atores. Michelle Monaghan e Patrick Dempsey estão a anos-luz de Cameron Diaz, Julia Roberts, Billy Cristal ou Meg Ryan em seus melhores dias. O resto seria perdoável, mas diálogos e astros sem sal se configuram num verdadeiro desastre quando o assunto é comédia romântica.
E, infelizmente, o desastre aconteceu.