“FALSA LOURA”, EMOÇÃO REAL

Em seu 15º. longa metragem, o cineasta Carlos Reichembach focaliza novamente o universo da trabalhadora feminina urbana de baixa renda, como já havia feito em “Garotas do ABC” e “Anjos do Arrabalde”. Desta vez, quem comanda a história é Silmara (a bela Rosanne Mulholland), uma sensual operária que atua como uma espécie de “líder” entre suas iguais. Ela é a mais descolada, a mais bonita, a que melhor sabe se vestir, a que dá dicas de moda e beleza para as companheiras de trabalho, enfim, uma mulher de personalidade forte, e por isso mesmo amada e invejada. Não há homem que não a olhe com desejo. Numa primeira e apressada análise, Silmara é quase uma biscate.

Porém, aos poucos Reichembach revela que sua protagonista carrega consigo toda a força necessária para sustentar seu pai, ex-presidiário, seu lar, ao mesmo tempo em que esconde uma ingenuidade que chega a ser surpreendente. No filme, o mundo desta operária acaba sendo revolucionado por três fortes presenças masculinas: seu próprio pai, um ídolo da música jovem, e um mito da música brega. Como sempre, o desenvolvimento narrativo dos filmes de Reichembach é realizado também através da trilha sonora, marca registrada do diretor, ele próprio um cineasta com formação musical.

Generoso com os personagens femininos, e cruel com os masculinos, “Falsa Loura” é um filme sobre máscaras, ilusões e decepções. Todos escondem algo, deliberadamente ou não. O rosto do pai é mercado com uma queimadura, no melhor estilo Fantasma da Ópera. A amiga feia se transforma em bonita. O irmão se transforma em “irmã”. Os mitos musicais caem e viram pesadelos. Nada é o que parece, e como o próprio título do filme já diz, até a loura é falsa.

Tudo com a marca registrada do cinema muito particular de Reichembach, um contador de histórias que rejeita as fórmulas fáceis e evita a todo custo o roteiro convencional. Um dos últimos e raros cineastas eminentemente autorais do nosso país.