“EL HUATRILA”, A ENCRUZILHADA DA AMÉRICA LATINA.

Por Celso Sabadin.

Se o argentino “La Estrella que Perdí” – o primeiro filme exibido na Mostra Competitiva de Longas no FAM 2024 – utiliza uma narrativa clássica para buscar e emocionar seu público, o peruano “El Huatrila”, o segundo a ser apresentado,  aposta em uma estética diametralmente oposta para passar seu recado.

Tudo acontece em La Oroya, pequena cidade do interior peruano cortada por importantes estradas que levam a diferentes lugares do país. É ali que o jovem Raúl também vive sua encruzilhada pessoal. Bolsista, ele estuda em uma escola particular, cara, bilíngue, onde é vítima de bulliyng por parte dos colegas ricos e de ascendência estrangeira. Surge uma oportunidade para Raúl continuar seus estudos em Madri, mas suas raízes estão fortemente fincadas em sua cultura local, principalmente na manifestação folclórica conhecida como El Huarita, que representa um personagem dos povos originários identificado com a terra e o campo.

Na contramão das facilidades simplificadoras, o diretor e roteirista Roberto Flores tece seu filme com diversas camadas de cores, brilhos e texturas. Alterna belas fotos em still, de contrastes fortes, com cenas de um preto branco dos mas pálidos, que por sua vez vão se entrelaçar com o colorido do folclore peruano, que também – por que não? – pode surgir monocromático. A hesitação do protagonista diante das opções de sua vida e do seu relacionamento com o pai saltam visualmente para a tela.

Ainda assim, a opção é pelo total realismo, onde prevalecem as intepretações fortemente naturalistas, e desponta a hostilidade do clima local como elemento ilustrador e ratificador da rudeza social impregnada no lugar. Onde a encruzilhada de La Oroya representa simbolicamente toda a América Latina.

“El Huatrila” também foi selecionado para o Philadelphia Latino Film Festival (PHLAFF).