DEPARDIEU É A ALMA DO BELO ROMANCE “QUANDO ESTOU AMANDO”.

Existe um certo charme nostálgico no mundo decadente dos velhos cantores românticos e dos salões de baile. “Chega de Saudade”, de Laís Bodanzky, é uma boa prova disso. Cauby Peixoto também. Este cheiro de brilhantina, que ao mesmo tempo causa estranheza e atração, é captado com sensibilidade pelo roteirista e diretor Xavier Gianolli no romance francês “Quando Estou Amando”.

Concorrente à Palma de Ouro no Festival de Cannes de 2006, e indicado a sete prêmios César (só levou um, o de melhor som), “Quando Estou Amando” estreou no Rio de Janeiro no final de maio e chegará a São Paulo somente no início de julho. Mesmo com dois anos de atraso em relação à sua estréia francesa, o filme merece ser visto.

Tudo gira em torno da magnética figura de Alain Moreau (Gérard Depardieu, genial como sempre), um cantor ultrapassado que constrói sua carreira em bailes de terceira idade, apresentações free-lancers, e principalmente numa pequena casa de shows francesa. Impossível dizer se ele é decadente, já que a decadência pressupõe pelo menos um momento de glória. Gordo, de voz sedutora e camisas de cores luminosas, Alain é a própria imagem de uma época de canções românticas que – quase – não existem mais. Até o momento em que seu olhar tristonho cruza com a luz dos olhos da bela Marion (Cécile De France, de “Albergue Espanhol” e “Bonecas Russas”), muito mais jovem que ele, mas cuja vida também tem marcas a mostrar. Bebendo somente água Perrier, Alain é um eterno embriagado pelo seu doloroso mundo musical. Marion é corretora de imóveis.

É em cima desta dicotomia que Gianolli alicerça seu belo filme. Sábio, o jovem (34 anos na época das filmagens) diretor acerta em cheio ao entregar o show de bandeja para o impecável Depardieu. Presenteia o ator com closes generosos, abre o microfone para sua voz, explora olhares, sabe quem está filmando e consegue assim um protagonista nunca menos que hipnótico. Evita também com sabedoria qualquer arroubo exagerado que o tema poderia oferecer como armadilha dramática. Deixa fluir com simplicidade e ternura uma boa e velha história de amor. Como boas e velhas são as canções românticas que embalam o filme.
Quer for jovem de coração vai amar.