“CONTINENTE” E “ABRAÇO DE MÃE”: MELHORES COMO DRAMAS QUE COMO TERRORRES.
Por Celso Sabadin.
Dois longas brasileiros de terror chegam ao público em um curto intervalo de tempo, aproveitando o clima de Dia das Bruxas: “Continente”, de Davi Prietto, e “Abraço de Mãe”, de Cristian Ponce.
O primeiro estreou em cinemas na última quinta, 31/10; e o segundo se encontra disponível na Netflix. Parêntese: sempre que eu penso em Netflix eu dou risada lembrando do delicioso “O Melhor Está por Vir”, de Nanni Moretti, mas outro dia a gente fala disso. Fecha parêntese.
Vencedor o prêmio de Melhor Direção no Festival do Rio, na categoria Novos Rumos, “Continente” mostra a jovem Amanda (Olivia Torres, ótima), após passar 15 anos na Europa, retornando à fazenda gaúcha onde cresceu. O motivo da viagem é o estado terminal de seu pai. Logo nas primeiras cenas se faz notar a forte tensão existente entre a protagonista e Helô (Ana Flavia Cavalcanti), a única médica da região, que afirma ser impossível fazer alguma coisa pela sobrevivência do pai de Amanda.
O roteiro – desenvolvido por Igor Verde, Paola Wink e pelo diretor do filme – desenvolve insinuações e sugestões sobre as possíveis raízes desta tensão. Racismo? Inconfessáveis segredos do passado? De qualquer maneira, a luta de classes entre os empregados da fazenda e a agora rica herdeira paira no ar preconizando ares de tragédia.
“Continente“ é coproduzido por Brasil, França e Argentina.
Abraço de Mãe
Nossos vizinhos do Rio da Prata também marcam presença em “Abraço de Mãe”, terror urbano dirigido pelo argentino Cristian Ponce.
A ação se passa no final do século passado. A ótima Marjorie Estiano (que deve estar cansada de virar meme todo final de ano), interpreta Ana, uma bombeira que acaba de retornar de um afastamento em seu trabalho, por motivos psicológicos. Logo nos primeiros momentos deste seu retorno, Ana e seus colegas recebem a difícil tarefa de evacuar um grupo de idosos de uma casa de repouso que ameaça desabar sob a forte tempestade que assola o Rio de Janeiro.
O roteiro é do próprio diretor do filme, com André Pereira e Gabriela Capello.
“Continente” e “Abraço de Mãe” têm dois fortes pontos em comum entre si. O primeiro é o protagonismo vigoroso de duas boas personagens interpretadas por duas ótimas atrizes. E o segundo é que ambos exibem muito mais qualidades quando suas narrativas ainda não adentraram ao gênero terror. Ou seja, “Continente” funciona melhor em seus momentos de suspense e de drama político-familiar que propriamente em suas cenas de horror. E, na mesma tocada, “Abraço de Mãe” mostra mais eficiência como drama, e até mesmo como aventura, que como terror.
Talvez tudo isso seja consequência do desgaste natural que o gênero vem sofrendo nestes últimos anos de grande explosão do terror mundial, nos quais a quantidade de filmes produzidos, em todo o mundo, escancara muito mais uma crise criativa desta estética que efetivamente uma evolução cinematográfica capaz de satisfazer ou mesmo medianamente suprir os fãs deste que é um dos gêneros mais antigos e mais populares do audiovisual.