BELÍSSIMO, “LONGE DELA” EMOCIONA COM DIGNIDADE

Um tema difícil, profundamente emocional, e tratado com extrema dignidade. Assim pode ser definido o drama “Longe Dela”, segundo filme da canadense Sarah Polley, muito mais conhecida pela sua carreira de atriz (ela esteve em “A Vida Secreta as Palavras”, “Estrela Solitária”, “O Doce Amanhã” e vários outros).

Intimista e poético, o filme começa mostrando o cotidiano aparentemente tranqüilo de um charmoso casal na faixa dos 60 anos. Grant (Gordon Pinsent) e Fiona (a premiadíssima Julie Christie) almoçam juntos, contam histórias, se divertem. Ao final da refeição, sob o olhar complacente de Grant, Fiona pega a frigideira sobre a mesa e a guarda dentro do refrigerador. Paciente, Grant espera que Fiona saia da cozinha, e com movimentos lentos, desfaz o engano da esposa. Distração? Não. A bela cena sinaliza o tema principal de “Longe Dela”: o Mal de Alzheimer.

A partir daí, o filme constrói a dolorosa trajetória de um casal que se distancia, que perde o rumo, que se perde. Ela vive a sagrada ingenuidade do desconhecimento crescente. Ele entra no pânico da despedida anunciada. E entre ambos a roteirista e diretora Sarah Polley constrói e desconstrói uma belíssima história de amor e perda. Não sem antes introduzir um precioso elemento de dúvida que sugere uma traição passada. Ou não?

Não por acaso, “Longe Dela” é produzido por um dos melhores cineastas canadenses, Atom Egoyan (egípcio de nascimento, mas radicado na América), que já havia trabalhado com Polley em “O Doce Amanhã”. Assim como seu mestre, a diretora realiza um trabalho pautado pela sensibilidade, de ritmo contemplativo e belo, onde os pequenos olhares e gestos fazem as grandes diferenças cinematográficas.

Para paladares sensíveis.