“ANTES QUE O DIABO SAIBA QUE VOCÊ ESTÁ MORTO” MOSTRA SIDNEY LUMET EM GRANDE FORMA.

Sérpico, Rede de Intrigas, Um Dia de Cão… os fãs da sétima arte – principalmente os mais “quarentões” – sabem que estes três filmes são fundamentais para quem quiser entender o cinema dos anos 70. Detalhe: todos os três foram dirigidos por Sidney Lumet. Agora a boa notícia: aos 84 anos, Lumet prova que está em plena forma ao dirigir o excelente “Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto”.

Tenso da primeira à última cena, o filme começa mostrando um assalto a uma joalheria. A princípio, um roubo corriqueiro, como tantas vezes o cinema já mostrou. Porém, tudo sai errado, há um tiroteio, e a rapidez da ação não permite que o espectador – pelo menos neste momento – identifique exatamente a gravidade da situação. Sem querer estragar as surpresas, logo o excelente roteiro de Kelly Masterson (nome de certo destaque no teatro, mas estreando no cinema com este filme) apresenta os personagens que comandarão a trama: os irmãos Andy e Hank. O divorciado Hank (Ethan Hawke), aparentemente o mais instável, precisa de dinheiro para pagar a pensão de seu filho. Enquanto Andy (Philip Seymour Hoffman), supostamente o mais equilibrado, tem um plano teoricamente infalível para que seu irmão menor levante a grana. E é melhor não dizer mais nada.

“Antes que o Diabo Saiba que Você Está Morto” destila uma fortíssima dose de tensão familiar que cresce a cada momento, tornando-se praticamente insuportável até o seu final. Trabalhando elementos como culpa, arrependimento e uma dor profunda, o filme é ancorado por um elenco estupendo, que além dos ótimos Hawke e Hoffman traz ainda um perfeito Albert Finney (“Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas”) e uma Marisa Tomei renascida das cinzas após a “maldição do Oscar” que ganhou com “Meu Primo Vinny”.

Ainda que sua trama tenha vários pontos em comum com o recente “O Sonho de Cassandra”, o filme de Lumet é muito mais radical e visceral que o de Woody Allen. Cruel e sem concessões, certamente não é filme para grandes públicos (faturou pouco mais de US$ 7 milhões nos EUA), mas recebeu aplausos, indicações e premiações em diversas associações de críticos.

O fã de cinema não deve perder.