ACLAMADA TRILOGIA NORUEGUESA TERÁ PRÉ-ESTREIAS.
Por Celso Sabadin.
A trilogia “Sex”, “Love” e “Dreams”, escrita e dirigida por Dag Johan Haugerud, coleciona cerca de 20 prêmios internacionais, sendo um punhado deles nos mais importantes festivais de cinema do mundo, como Veneza e Berlim.
Produzidos pela Noruega, os três filmes foram lançados no exterior no transcorrer do ano passado, e chegarão nas próximas semanas aos cinemas brasileiros. Embora façam parte, como foi dito, de uma trilogia, não existe necessariamente uma ordem certa para assisti-los, já que suas histórias são independentes entre si. Mesmo assim, a distribuidora brasileira teve a boa ideia de lançá-los de uma maneira que permita ao público tomar conhecimento de toda a obra num ritmo cadenciado, digamos, nem tão lento que desanime, nem tão rápido que desespere.
“Sex” e “Love”, por exemplo, já terão pré-estreias neste final de semana (leia no final da matéria), preparando o lançamento de “Dreams”.
“Sex” se inicia com Feier (Gunnar Røise) e seu supervisor cujo nome não é citado (Thorbjørn Harr), dois amigos e colegas de trabalho, limpadores de chaminés, na cidade de Oslo. Num dia como outro qualquer, durante um corriqueiro cafezinho, o supervisor diz a Feier que acordou perturbado por um sonho estranho, no qual ninguém menos que David Bowie o encara com, supostamente, um olhar de desejo. E deixa claro que nem gosta muito de David Bowie.
Feier, por sua vez, aproveita o assunto e conta ao amigo que teve relações sexuais com um homem. E que gostou, embora isso não o torne um homossexual, segundo diz.
O fato de ambos serem limpadores de chaminés assume repentinamente um caráter repleto de irônico simbolismo.
As revelações abrem caminho para uma rede de incômodos, perturbações e questionamentos que abalam as famílias de ambos os protagonistas.
Ao redor de tudo e de todos, vê-se uma Oslo povoada por gruas e grandes obras urbanas, num grande processo estrutural de transformações e reestruturações que dialogam metaforicamente com Feier e seu colega de trabalho.
“Sex” causa diversas camadas de um bem vindo estranhamento. Num primeiro momento, porque ousa criativamente abordar temas dos mais inquietantes com um ritmo narrativo absolutamente na contra mão das próprias inquietações que propõe. Ou seja, o filme é dirigido com totais elegância e sobriedade, repleto de relaxantes silêncios quando não povoado por uma envolvente trilha musical jazzística, e principalmente abrindo mão da cansativa busca incessante pelas formulações desgastadas dos roteiros comerciais dominantes para propor a calmaria do pensamento reflexivo necessário às grandes questões. É contido, quase asséptico.
Num segundo momento, absorvida a mansidão quase sarcástica do contexto, é praticamente impossível não imaginar como seria o comportamento destes personagens diante dos tabus sexuais abordados, caso eles fossem latinos, e não nórdicos, como no filme.
Menos envolvente que “Sex”, mas igualmente repleto de qualidades, “Love”, o segundo filme, segue o mesmo estilo. A trama agora envolve duas mulheres.
Encarregada pela prefeitura de produzir os festejos comemorativos do centenário da mudança do nome da capital norueguesa de Christiania para Oslo, Heidi (Marte Engebrigtsen) anda insegura, tensa e atarefada. Mas sempre encontra um tempo para tentar arranjar um namorado para sua amiga Marianne (Andrea Bræin Hovig), uma médica oncologista convictamente solteira.
Outros intrigantes personagens se incorporarão à trama, que usará a barca que serve à cidade como um simbólico e poético veículo de amores fluidos.
Ainda não vi “Dreams”, tido como o fechamento da trilogia, mas ver “Sex” e “Love” me deixou bastante curioso. Ambos terão pré-estreias neste final de semana nas cidades de Niterói (no Reserva Cultural), Recife (no Cinema da Fundação Joaquim Nabuco), e em
São Paulo (também no Reserva e no CineSesc), para posteriormente ganharem um circuito maior.