A NARRATIVA (LITERALMENTE) CLÁSSICA DE “DIVERTIMENTO.”  

Por Celso Sabadin.

Até por uma questão profissional, nós, críticos de cinema, sempre temos a tendência de valorizar novas experiências narrativas, soluções audiovisuais vanguardistas, inventividades estéticas. Claro: é assim que a arte evolui.

Contudo, por outro lado, muitas vezes apenas uma boa e velha história bem contada, por mais previsível que pareça, também acaba se tornando uma experiência cinematográfica das mais gratificantes, quando bem dirigida.

É o caso da produção francesa “Divertimento”, que estreia nos cinemas no próximo dia 18 de julho.

Baseado em uma história real, o longa mostra a trajetória de Zahia (Oulaya Amamra), adolescente de origem argelina que, assim como milhares de outras, também quer vencer profissionalmente na França. Sua luta, contudo, traz uma dificuldade extra: ela estuda obsessivamente para ser regente de orquestra, profissão que raramente abre espaço para mulheres.

Além dos preconceitos já sofridos pelos descendentes de culturas árabes em território europeu, Zahia ainda sofre bullying de seus colegas por morar na periferia de Paris, por ser mulher, e por nunca desistir.

“Divertimento” se insere assim no conhecido sub-gênero de filmes de “superação”, mas com algumas vantagens sobre a média deste estilo – digamos – coaching.  Em primeiro lugar, as interpretações de todo o elenco conseguem conferir à trama boas doses de empatia e realismo, que acabam sendo essenciais à necessária identificação plateia/protagonista. E em segundo lugar – mas não menos importante – quando se ambienta uma história nos bastidores da música clássica, sempre se ampliam as possibilidades de utilização dramática da trilha musical tomando emprestados os talentos dos grandes mestres da área. O que o filme também sabe realizar com maestria. Méritos para a diretora

Marie-Castille Mention-Schaar, que com mão leve e sutil consegue reger com talento sua sinfonia cinematográfica, mesmo com um roteiro nem tão genial.

Um filme para ver de ouvidos e coração abertos.