A MULTIPLICIDADE DE “MÁRIO DE ANDADE, O TURISTA APRENDIZ”.

Por Celso Sabadin.

Se um alienígena viesse à Terra sem saber nada sobre Mário de Andrade, e fosse realizar uma breve pesquisa sobre o assunto, na internet, encontraria o seguinte resultado: Mário de Andrade foi um poeta, contista, cronista, folclorista, pesquisador, romancista, musicólogo, historiador de arte, crítico e fotógrafo brasileiro. Ah, e foi também um dos nomes principais da Semana de Arte Moderna de 1922. Enfim, um verdadeiro polímata nacional.

Ou seja, uma personalidade muito rica e complexa para caber num documentário só.

Assim, mostra-se das mais acertadas a opção do longa “Mário de Andrade, o Turista Aprendiz”, em limitar um recorte sobre o objeto documentado, para dentro desta limitação salpicar aspectos diferentes de sua vida e obra. Longe de ter a pretensão de esgotar a vastidão do assunto.

O filme então se debruça mais demoradamente sobre as anotações feitas por Mário durante sua longa viagem de estudos realizada pelo Rio Amazonas, em 1927, que inclusive originou a publicação de uma de suas obras mais consagradas: “Macunaíma”, do ano seguinte.

Tais anotações, revisadas pelo autor em 1943, foram publicadas postumamente, em 1976, sob o título “O Turista Aprendiz”, material que serve de base para o longa homônimo, lançado em cinemas nesta quinta, 27/03.

“O Turista Aprendiz”, o filme, é outra entre tantas várias boas obras audiovisuais a provar que não existem mais motivos que justifiquem a separação entre ficção e documentário. Na nossa era pós-moderna, assim como quase tudo, ficção e documentário também andam juntos e misturados.

Assim, esta proposta de viagem fílmica de Mário de Andrade (interpretado por Rodrigo Mercadante) é múltipla, entremeando as linguagens literária, poética, fotográfica, teatral, lírica e – claro – cinematográfica, na qual ficção e documentário coexistem pacificamente. Ou seja, um filme tão plural quanto o personagem que o inspira.

O caminho do rio serve como fio condutor de uma narrativa que se apoia praticamente em sketches individuais e independentes para externar o pensamento de Mário, sempre em busca de uma verdadeira e forte linguagem brasileira, numa época em que a discussão sobre o Nacionalismo assumia grandes proporções.

Com direção, roteiro e fotografia de Murilo Salles, “Mário de Andrade, o Turista Aprendiz” traz no elenco Dora Freind, Dora de Assis Lorena da Silva e Zahy Guajajara, além do já citado Rodrigo Mercadante.

Quem dirige

Murilo Salles é cineasta. Carioca desde 1950. Graduado em Teoria da Informação pela Escola de Comunicação da UFRJ – ECO. Estreou na direção com o documentário Essas são as Armas, em 1978, Pomba de Prata do Festival de Leipzig na Alemanha. Com Nunca Fomos Tão Felizes, a primeira ficção, ganhou o Leopardo de Bronze no Festival de Locarno na Suíça, foi selecionado para a Quinzena dos Realizadores do Festival de Cannes, e venceu como Melhor Filme o Festival de Brasília em 1984. Em 1989, dirigiu Faca de Dois Gumes, prêmio de Melhor Diretor do Festival de Gramado. Em 1994, dirigiu Todos os Corações do Mundo, documentário Oficial da FIFA sobre a copa de Mundo. Em 1996, Como Nascem os Anjos, Melhor Direção do Festival de Gramado e Prêmio Colón do Oro de Melhor Filme do Festival de Huelva, na Espanha, e exibido no Fórum Berlinale, em 97. Seja o que Deus Quiser! foi vencedor do Festival do Rio de 2002. Em 2003, realizou o documentário ensaístico És Tu, Brasil. O seu quinto longa de ficção, Nome Próprio, de 2008, ganhou o prêmio de Melhor Filme do Festival de Gramado.

Em 2015 lançou 3 longas-metragens, o documentário Aprendi a jogar com você, prêmio de Melhor Montagem do Festival de Paulínia de 2014, a ficção O Fim e os Meios, vencedor do Prêmio de Melhor Roteiro no Festival do Rio 2015 e o documentário Passarinho Lá de Nova Iorque, que estreou na Mostra Autores do Festival de Tiradentes de 2014.

Em 2018 lançou Alegorias do Brasil, uma série ensaística, em 13 capítulos, exibida no Canal Curta! Em 2021, seu DOC ensaístico Uma Baía, estreou no DOC Leipzig na Alemanha, foi premiado com a Melhor Direção e Montagem no Festival do Rio, e Seleção Oficial do Festival de Cartagena.