“INSTINTO DE VINGANÇA” BEIRA O BIZARRO

Em 1967, a apresentadora Hebe Camargo recebeu em seu programa de entrevistas na TV Record o médico cardiologista Christian Barnard, que naquele momento havia se tornado uma personalidade mundial ao realizar com sucesso o primeiro transplante de coração da história. Famosa por suas gafes, Hebe não fez por menos: perguntou ao médico se um homem que recebe o coração de uma mulher não corre o risco de se apaixonar por outro homem… Sorridente e pacientemente, Dr. Barnard explicou que uma coisa nada tinha a ver com a outra.

Nem Hebe Camargo nem o Dr. Barnard poderiam supor que, décadas depois, o roteirista David Callahan (criador também da história de “Os Mercenários”) escreveria um filme de pressuposto tão bizarro quanto o proposto pela apresentadora: “Instinto de Vingança”. A trama fala de Terry (Josh Lucas), rapaz que recebeu um coração transplantado de uma vítima assassinada. Logo Terry percebe que este seu novo coração bate mais forte quando chega perto de criminosos da quadrilha que mataram seu, vamos dizer, “antigo dono”. A vingança será inevitável e – pior – à revelia de Terry.

Para piorar, “Instinto de Vingança” é um filme que se leva a sério. Talvez a trama pudesse funcionar numa produção de terror mais leve e descompromissada (e até divertida), mas beira o ridículo quando tratada da forma solene e policialesca proposta pelo diretor Michael Cuesta. A produção – rateada entre EUA e Inglaterra – é assinada pelos badalados irmãos Tony e Ridley Scott, o que até dá ao filme um acabamento técnico caprichado. O elenco faz o que pode. Mas todos os esforços são insuficientes para encobrir a total inverosimilhança de “Instinto de Vingança”. Pode-se até argumentar que a história básica foi inspirada num conto do grande Edgard Allan Poe. O que tampouco salva o filme da categoria de descartável.

Curiosidade: o sobrenome do personagem principal é Bernard. Seria alguma referência ao famoso médico entrevistado por Hebe Camargo?