“TERMODIELÉTRICO”, PORQUE A ARTE É ONIPRESENTE. 

Por Celso Sabadin. 

Olhando bem, prestando bastante atenção, existe uma grande quantidade de temas interessantes para a produção de documentários bem diante de nossos narizes. Muitas vezes, dentro da nossa própria família. 

Não por acaso, é bastante perceptível, nos últimos anos, o crescimento da quantidade de documentários que abordam os antepassados do próprio documentarista. Geralmente, eles seguem a fórmula da narração em primeira pessoa servindo como depoimento afetivo do próprio realizador do filme, e uma boa quantidade de material de arquivo, muitas vezes obtido nos próprios baús e armários familiares.  

“Termodielétrico”, estreando em cinemas nesta quinta-feira, 10/10, é um exemplo típico desta vertente.  

Em sua primeira obra como diretora, Ana Costa Ribeiro convida o espectador a explorar a vida e a obra do físico Joaquim da Costa Ribeiro, avô da cineasta e descobridor do fenômeno termodielétrico – processo que revela a geração de correntes elétricas associadas à mudança de estado físico de certos materiais.  

Parece chato? Não é. Conscientemente ou não, a diretora segue a linha intimista do chileno Patricio Guzmán, um dos maiores documentaristas do mundo, para realizar seu longa. A ideia é ver – e perceber – que existe arte em tudo, até nos fenômenos físicos, elétricos, químicos, enfim, em todas aquelas matérias de exatas que o pessoal de humanas (eu incluído) odiava na escola, mas que também têm a sua magia. E como tem! A magia da termodieletricidade – junto com outras – ganha espaço na tela com pinceladas artístico-poéticos embaladas pela visão familiar-afetiva da realizadora.  

“O filme é uma maneira de explorar a curiosidade do meu avô, a forma como ele olhava o mundo, e refletir sobre como essas mesmas questões podem se aplicar às nossas relações humanas”, afirma a diretora.  

O longa teve sua première mundial no IDFA, na Holanda, na Envision Competition (mostra dedicada a filmes com experimentação de linguagem), e já passou por eventos como o Festival do Rio e a Mostra de São Paulo.  

Assim como existe um documentário em potencial em cada esquina, pode existir arte e poesia nos mais diversos temas. 

Quem dirigiu 

Ana Costa Ribeiro é artista, cineasta e escritora independente. Doutora em Arte e Cultura Contemporânea pela UERJ, Master of Fine Arts em Cinema pela San Francisco State University e Bacharel em Comunicação Social pela UFRJ. Foi artista residente no Lab Cinema Expandido (Laboratório de Videoinstalação/ Cinemateca do MAM), no LabVerde (Programa de Imersão em Arte e Ecologia) e na Walden (Residência de Criação Documental); e realizou duas exposições individuais: A CASA É QUANDO A GENTE VOLTA (Galeria do Ateliê da Imagem) e ALÉM DO PONTO DE FUSÃO (Espaço Vazio/ Largo das Artes). Como diretora, realizou sete curtas-metragens, entre eles, ARPOADOR, e cinco séries documentais, entre elas, EDUCAÇÃO E SOCIEDADE NO BRASIL. Trabalha como montadora há 24 anos, tendo colaborado com diversos artistas e cineastas em videoinstalações e filmes documentários. Seus ensaios foram publicados em revistas no Brasil e em Portugal. É professora há 15 anos, em cursos livres de documentário, linguagem cinematográfica, montagem, narrativas audiovisuais e processo criativo, entre outros.