DUAS PRODUÇÕES GAÚCHAS CHEGAM AO CIRCUITO. 

Por Celso Sabadin. 

Dois longas metragens produzidos no Rio Grande do Sul ganham as salas de cinema do Brasil, nesta virada de mês: na última quinta, 26/09, estreou o thriller histórico-político “Ainda Somos os Mesmos”, ambientado na época da ditadura militar chilena. E no próximo 03/10 entra em cartaz o drama familiar “Até que a Música Pare”, sobre um Rio Grande do Sul bucólico e rural que talvez poucos conheçam. 

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Ainda Somos os Mesmos 

Escrito, dirigido e produzido por Paulo Nascimento (o mesmo de “A Oeste do Fim do Mundo”, “Ainda Somos os Mesmos” apoia-se em relatos reais de sobreviventes brasileiros na ditadura chilena nos anos 70 para contar sua história.  

O fio condutor é Gabriel (Lucas Zaffari), estudante de medicina que em 1970 exila-se no Chile, fugindo dos horrores da ditadura brasileira. Lá, porém, acaba sendo vítima de uma nova ditadura – desta vez, empreendida por Pinochet – que em 1973 derruba com um golpe de estado o governo democrático de Salvador Allende. O inferno de Gabriel parece não ter fim. 

O protagonista consegue então refúgio na embaixada argentina em Santiago, que naquela ocasião dá guarida aos militantes esquerdistas. É lá que ele conhece Clara (Carol Castro) e centenas de brasileiros que estão em busca da sobrevivência. Enquanto isso, no Brasil, o empresário Fernando (Edson Celulari), pai de Gabriel, aciona seus contatos junto aos militares golpistas para tentar resgatar o filho. 

“Ainda Somos os Mesmos” é baseado em vários relatos históricos, entre eles o do gaúcho e ex-guerrilheiro da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) João Carlos Bona Garcia, que ficou 42 dias abrigado na Embaixada Argentina e sobreviveu. Bona participou das leituras de roteiro e da adaptação feita por Paulo Nascimento, mas morreu em 2021, vítima da covid-19 no Brasil, sem ver o filme pronto.  

Completam o elenco Nicola Siri, Nestor Guzzini , Carlos Falero, Rogério Beretta, Alvaro Rosacosta, Evandro Soldatelli, Pedro Garcia, Gabrielle Fleck, Jurema Reis, Juan Tellategui, Néstor Monasterio e Liane Venturella. 

“Ainda Somos os Mesmos” foi premiado como o Melhor Filme Independente no Montreal Independent Film Festival 2023. 

 

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Até que a Música Pare 

 

O terceiro longa da diretora Cristiane Oliveira (de “Mulher do Pai” e “A Primeira Morte de Joana”), “Até que a Música Pare” propõe um mergulho afetivo e bucólico num Rio Grande do Sul profundo que fala Talian, uma variante linguística surgida da fusão do dialeto vêneto com o português e várias línguas regionais italianas. 

Quem conduz a trama é o casal Chiara e Alfredo, interpretados respectivamente por Cibele Tedesco e Hugo Lorensatti, do grupo teatral Miseri Coloni, de Caxias do Sul. Com problemas de saúde, Alfredo trocou o mercadinho familiar por um negócio menor, no qual ele próprio dirige sua velha Belina e entrega mercadorias e encomendas pela região de Caxias. Sentindo-se solitária, Chiara decide acompanhar o marido em suas andanças pelo interior. E talvez não goste do que virá a descobrir.  

“A escalada recente dos discursos de ódio rachou muitas famílias no Brasil. Esse filme surge um pouco dessa dor e ao longo da construção do longa a gente se perguntava muito sobre quais são as palavras que fazem com que você desista de alguém que você ama. Qual é o limite da sua tolerância?”, explica a diretora.

Trazendo uma narrativa intimista e contemplativa embalada por uma belíssima fotografia, “Até que a Música Pare” levanta importantes questões sobre tempo, família e ética num Brasil que parece ter infinita vocação para o fazer errado. 

Coproduizido com a Itália, o filme ainda traz em seu elenco  Elisa Volpatto (da série “Bom Dia, Verônica”), o ator italiano Nicolas Vaporidis (“Todo o Dinheiro do Mundo”, de Ridley Scott) e talentos locais, no melhor estilo Neorrealista italiano.