ESTÉTICA TELENOVELÍSTICA COMPROMETE “DE PAI PARA FILHO”.

Por Celso Sabadin.

Neste mês mercadologicamente dedicado aos pais, pelo menos dois lançamentos brasileiros abordam o tema da reconciliação de filhos com seus genitores. Um é ótimo, e se chama “Estranho Caminho”. O outro é “De Pai para Filho”.

Neste seu terceiro longa metragem, o diretor e roteirista Paulo Halm fala de José (Juan Paiva, ótimo em “Nosso Sonho”, filme em que interpretou o cantor Buchecha), um rapaz que sai do interior paulista e vai ao Rio de Janeiro para cuidar da papelada e do apartamento que seu recém-falecido pai, Machado (Marco Ricca), lhe deixou.

Ambos jamais foram próximos: Machado era um roqueiro veterano, afeito a noitadas e drogas, enquanto José é um jovem tímido e conservador, fã de música sertaneja, que cuidava de sua mãe doente. Em vida, a aproximação entre eles parecia impossível. Quem sabe agora a morte do pai traga novidades.

Ainda que o tema sugira um melodrama, “De Pai para Filho” transita mais pelos caminhos da comédia romântica com pitadas dramáticas, o que não seria problema algum, não fosse sua opção pela estética e pela narrativa telenovelísticas.

Os enquadramentos fechados, a fotografia chapada, a direção de arte (por vezes tem-se até   impressão que há apartamentos sem janelas), as intepretações sempre um ou dois tons acima, tudo no filme nos remete a apenas mais uma telenovela. Não faltam sequer alguns momentos em que os personagens falam sozinhos, pensando alto, marca registrada do audiovisual televisivo brasileiro.

Tal ausência de cinema em “De Pai para Filho” acaba afastando o público, digamos, mais cinéfilo, do envolvimento que a questão pai/filho poderia provocar. Talvez o filme seja mais palatável quando for para o streaming, ou para a própria TV, onde provavelmente encontre seu público com melhores resultados.

A estreia foi em 08/08.

Quem é o diretor

Formado em cinema pela UFF, Paulo Halm é diretor e roteirista de cinema e tv. Dirigiu diversos curtas premiados como “PSW, uma crônica subversiva”, “Biu, a vida real não tem retake”, “Bela e Galhofeira” e “O resto é silêncio”. Todos premiados em festivais no Brasil e no Exterior.  Em 2009, realizou seu primeiro longa metragem de ficção, “Histórias de Amor Duram Apenas 90 Minutos”. Em 2013, lançou seu longa documentário “Hijab, Mulheres de Véu”.”De Pai Para Filho” é seu terceiro longa.

Escreveu, entre outros, os roteiros dos filmes “Pequeno Dicionário Amoroso” 1 e 2, “Quem Matou Pixote?”, “Guerra de Canudos”, “Amores Possíveis”, “Dois Perdidos Numa Noite Suja”, “Sonhos Roubados”, “Achados e Perdidos”, “Casa da Mãe Joana” 1 e 2, “Olhos Azuis”, “Antes que o mundo acabe”, “Não se Preocupe, Nada Pode Dar Certo”,  “Ninguém Entra, Ninguém Sai” e “Principe Lu e a Lenda do Dragão”. Participou também dos roteiros de “Cazuza – O tempo não para” e  “Meu Nome Não é Jonnhy” .

Para TV Manchete, nos anos 90, participou como roteirista da novela “Amazônia” e foi autor da minissérie “O Farol”. Na TV Globo, participou como roteirista da série “Dicas de Um Sedutor” e “Malhação Intensa”, escrevendo posteriormente, já como  autor, as novelas “Malhação Sonhos”, “Totalmente Demais” e “Bom Sucesso”.