“MAIS PESADO É O CÉU” E O PASSADO SUBMERSO DO PAÍS.

Por Celso Sabadin.

Eu sei que é proibido, mas dá vontade de assistir ao filme “Mais Pesado é o Céu” com uma câmera fotográfica na mão, para registrar e eternizar os inúmeros “quadros” que o cineasta Petrus Cariry pinta na tela do cinema. Cada plano é uma verdadeira obra de arte de luzes, sombras, composições e enquadramento.

Ah, sim, e há uma história também, desenvolvida pelo envolvente roteiro de Firmino Holanda, Rosemberg Cariry e do próprio diretor. Aliás, mais que uma história, um estado de espírito.

“Mais Pesado é o Céu” coloca em rota de encontro dois fascinantes personagens marginais: Teresa (Ana Luiza Rios) e Antonio (Matheus Nachtergaele). Mergulhados no Brasil profundo, ambos têm em comum apenas o lugar onde nasceram e cresceram: um vilarejo desaparecido, hoje inundado por um açude. Com o passado sob as águas e o futuro totalmente incerto, resta a Teresa e Antonio apenas viver o presente. O que não é nada fácil num país hostil aos excluídos.

Além da já citada maravilhosa fotografia, “Mais Pesado é o Céu” também apresenta uma trilha sonora instigante (de João Victor Barroso), que não raro flerta com o suspense, mesmo que o filme seja abertamente um road-drama. Estranho? Não. Afinal, conviver com o inesperado e o incerto da sobrevivência cotidiana não deixa de ser uma vertente muito brasileira de suspense. Quando não, de terror.

O resultado é um filme de grande sensibilidade – belo em sua forma e humanisticamente poético em seu conteúdo – que se acompanha com grande empatia do primeiro ao último fotograma. Não apenas pelas suas qualidades técnicas e narrativas, como também pelas ótimas performances que Cariri obtém de seu elenco. Incluindo uma participação muito especial de Silvia Buarque de Holanda – no papel de Fátima – personagem que representa um respiro de luz em meio à escuridão social do país.

E por falar em último fotograma, “o que a gente fez com a gente?” é uma fala de “Mais Pesado é o Céu” que não sai da minha cabeça desde que eu vi o filme.

Ei ia também falar dos festivais e prêmios que o filme já recebeu até agora, mas é tanta coisa que deu preguiça. Segue a relação:

 

  • 51º Festival de Cinema de Gramado – Melhor Diretor, Melhor Fotografia, Melhor Montagem e Prêmio Especial do Júri
  • 30º Oldenburg International Film Festival (Alemanha) – German Independence Award – Spirit of Cinema
  • 21º Festival de Cinema e Vídeo de Cuiabá – Melhor Atriz e Melhor Fotografia
  • Brooklyn Film Festival 2024 (EUA) – Melhor Fotografia
  • 1º Festival de Cinema Sul-Americano de Bonito 2023 – Prêmio da Imprensa – Melhor Longa Sul-Americano
  • 25º Festin – Festival De Cinema Itinerante Da Língua Portuguesa (Portugal) – Melhor Filme e Melhor Direção
  • 20º Fantaspoa – Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre – Melhor Filme
  • 16º Los Angeles Brazilian Film Festival (EUA) – Melhor Fotografia
  • 1º Festival de Cinema de São Bernardo do Campo – Melhor Diretor e Melhor Fotografia
  • Festival Satyricine Bijou 2024 – Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Fotografia, Melhor Roteiro, Melhor Atriz, Melhor Atriz Coadjuvante, Melhor Direção de Arte e Melhor Trilha Sonora
  • Kanazawa Film Festival 2024: Choice of Kanazawa (Japão) – Seleção Oficial
  • 44º Festival Internacional de Cinema de Havana (Cuba) – Seleção Oficial
  • 30ª San Antonio Film Festival (EUA) – Seleção Oficial
  • 13º Philadelphia Latino Arts & Film Festival (EUA) – Seleção Oficial
  • 47ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo – Seleção Oficial
  • 28º Inffinito Brazilian Film Festival (EUA) – Seleção Oficial
  • 17º Islantilla Cinefórum (Espanha) – Seleção Oficial
  • 2º Festival Internacional de Cinema de Goiânia – Seleção Oficial
  • 15º Festival Maranhão na Tela – Exibição Especial – Panorama Nacional
  • 1º Retama – Festival Latino-Americano de Cinema (Peru) – Seleção Oficial
  • 33º Cine Ceará – Festival Ibero-Americano de Cinema – Exibição Especial
  • 25º Festival Kinoarte de Cinema – Exibição Especial
  • 2º Festival Internacional de Cinema de João Pessoa – Exibição Especial – Filme de Abertura
  • Goiânia Kino Mostra 2024 – Exibição Especial – Filme de Encerramento
  • 13º Kinobravo International Film Festival (Rússia) – Seleção Oficial
  • 11º Agenda Brasil – Festival Internazionale di Cinema Brasiliano (Itália) – Seleção Oficial

 

 

 

Quem é o diretor

Petrus Cariry nasceu no Ceará, em 1977. Realizou nove curtas-metragens entre 2002 e 2010, entre eles “A Velha e o Mar”, “Dos Restos e das Solidões” e “A Montanha Mágica”. Em 2007, dirigiu o drama familiar “O Grão”, seu primeiro longa-metragem que deu início ao que intitulou de Trilogia da Morte, composta também por “Mãe e Filha” (2011) e “Clarisse ou Alguma Coisa Sobre Nós Dois” (2015). Seus primeiros longas ganharam juntos mais de 70 prêmios em festivais de cinemas nacionais e internacionais. Depois de “O Barco” (2018), dirigiu o documentário “A Jangada de Welles” (2019) ao lado de Firmino Holanda e a ficção “A Praia do Fim do Mundo”, ainda inédita em circuito comercial. “Mais Pesado é o Céu” (2023), estrelado por Matheus Nachtergaele e Ana Luiza Rios, é o seu sétimo longa-metragem.