“ESTRANHO CAMINHO“, FILME DE TERRORES E REENCONTROS.

Por Celso Sabadin.

Pra mim, todo e qualquer filme que enfoque o Brasil no período entre 2019 e 2022 pode – e deve – ser considerado como um filme de terror.
O ótimo “Estranho Caminho” não foge à regra.
A ação tem início logo nos primeiros dias da pandemia, momento em que o jovem cineasta brasileiro David (Lucas Limeira, de “Cabeça de Nêgo”) desembarca em Fortaleza, vindo de Lisboa. Seu objetivo é exibir seu primeiro longa metragem, selecionado para um festival local. Porém, a pandemia cancela o evento e suspende a passagem de volta de David, deixando-o isolado e solitário na capital cearense. A solidão do momento acaba se transformando na solução ideal – ou, pelo menos, na solução possível – para que o jovem se reconcilie com o pai (Carlos Francisco, de “Marte Um”).
Há algo de mágico no roteiro e principalmente na direção do cearense Guto Parente. Desde as primeiras cenas, “Estranho Caminho” demonstra uma forte habilidade em prender a atenção do público através de uma narrativa que mistura suspense e mistério com drama pessoal, além de uma pitada de terror.
Tais elementos são potencializados por ótimas interpretações de todo o elenco e pelo estilo realista do realizador, com destaque para um dos mais caprichados trabalhos de som realizados ultimamente no cinema brasileiro.
Não por acaso, “Estranho Caminho” percorreu uma marcante trajetória em festivais, vencendo os prêmios de Melhor Roteiro e Melhor Ator Coadjuvante (para Carlos Francisco) no Festival do Rio, Melhor Filme da Mostra Autorias em Tiradentes, além de ter sido o grande destaque no Festival de Tribeca, onde ganhou todos os prêmios de Filme, Roteiro, Fotografia e Performance (novamente para Carlos Francisco).
O diretor/roteirista afirma: “Eu gosto de misturar as coisas, o cinema narrativo com o experimental, o realismo com a fantasia, o humor com o espanto. A cada filme gosto de poder trabalhar com elementos diferentes, testando combinações improváveis e descobrindo novas possibilidades. Criar sem experimentar é reproduzir. A experimentação está no cerne da criação e é onde podemos assumir os riscos mais interessantes. Sem medo de errar. Ou buscando errar cada vez melhor. O fantástico é o que se encontra entre o maravilhoso e o extraordinário, é o lugar da dúvida, da hesitação, do mistério sem solução. A pergunta que gera uma nova pergunta, que gera uma nova pergunta.”
“Estranho Caminho” estreia em 01/08 em cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Aracaju, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, João Pessoa, Porto Alegre, Recife, Vitória, Maceió, Londrina, Poços de Caldas e Afogados da Ingazeira. A partir de 08/87, o filme entra em cartaz também em Manaus, Niterói e Balneário Camboriú.
Quem é o diretor
Guto Parente é diretor, roteirista e montador. Formou-se em cinema na primeira turma da Escola de Audiovisual de Fortaleza, foi membro do coletivo de artistas Alumbramento (2008-16) e é sócio da produtora Tardo Filmes desde 2012. Realizou 7 curtas – entre eles Flash Happy Society (2009) e Dizem que os Cães Veem Coisas (2012), exibido no Festival de Locarno (Suíça) – e 9 longas – entre eles Estrada para Ythaca (2010) e Os Monstros (2011), ambos competindo no BAFICI (Argentina), onde Os Monstros recebeu uma menção especial do júri; A Misteriosa Morte de Pérola (2014), Inferninho (2018) e O Clube dos Canibais (2018), os três lançados no Festival de Rotterdam (Holanda) e exibidos em diversos festivais ao redor do mundo. Seu 10º longa-metragem, Estranho Caminho, foi lançado no Festival de Tribeca 2023 (EUA).